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O tempo calmo, o tecido criado pelas cordas de violões transpassadas
pelo timbre do acordeom, a percussão, mais que a bateria, de sons
naturalistas, e a voz profunda de Teresa Salgueiro firmam uma identidade
que não se copia. Ela une o disco todo, tratado como se fosse dividido
por capítulos de um filme a cada faixa. Horizonte vem primeiro, como um
anúncio, um arrepio. “Ali se eleva o meu canto / É às distâncias que
grito / Este delírio, este espanto / Que em tantos dias eu sinto.” Segue
então com Desencontro, reforçado por um detalhe que não se percebe de
longe. A marcação do ritmo no início tem seu acento deslocado por uma
síncope que o atropela para que a música comece falando assim:
“Desencontro, desconcerto / Desacerto, puro assombro / Desalento, de um
reverso / Que eu acerto, no teu ombro”.
A Cidade, na sequência, traz o discurso de perplexidade que Teresa
reforça em sua entrevista. Algo está errado quando o mundo evolui para
tantos caminhos, faz descobertas tecnológicas tão transformadoras e
segue com as mesmas angústias do período medieval. A fome, o
preconceito, a raiva, as guerras. “Se houvesse uma distribuição mais
justa, uma vez que a Terra foi feita para todos que estão aqui…”, ela
diz.
Teresa deixou o Madredeus, grupo que a apresentou ao mundo, há
10 anos. Desde então, ela lançou três discos. O primeiro, de 2007, Você
e Eu, trazia canções de Pixinguinha, Tom Jobim, Chico Buarque e Dorival
Caymmi. Em 2011, ela fechou-se no Convento da Arrábida, em Portugal,
para gravar o primeiro álbum solo e autoral, batizado O Mistério, que
acabou sendo lançado em 12 países. Horizonte saiu em Portugal em 2016.
A travessia entre o Madredeus e a afirmação de uma carreira
autoral se deu sem traumas maiores, como ela diz. “Essa afirmação é algo
em construção, será sempre um desafio. Este disco que canto agora vai
fazendo sua história, e eu já me sinto recompensada pela música.”
Seu canto sai do sonho e ganha terras um pouco mais sombrias quando
chega a introdução de Êxodo. Há sons de guerra, ataque de aviões, até
que a música de tonalidades árabes (de escalas tão naturais aos
ibéricos) se impõe. “O enredo adensou e a terra tremeu / Estandartes da
raiva e da mentira que nasceu.”
Como um filme bem roteirizado, não é por acaso que o álbum segue com A
Luz. Passada a tempestade, o sol nasce nos arpejos de um violão e nos
versos de Teresa. “Uma centelha ardente / brilha mais do que o sol / A
maior alegria / Está contida nos gestos de amor.” As memórias e os
horizontes de Teresa Salgueiro acreditam em uma transformação.
TERESA SALGUEIRO
Sesc Belenzinho. R. Padre Adelino, 1.000, tel. 2076-9700.
5ª (19) e 6ª (20), às 21 horas. R$ 18 a R$ 60
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Redirecionado de https://istoe.com.br/teresa-salgueiro-vem-a-sao-paulo-lancar-o-arrebatador-horizonte/
Foto: Mimo Paraty
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