(Por Nuno Pacheco)
Foi O Mistério que lhe abriu horizontes. O anterior disco de
Teresa Salgueiro, que foi o primeiro integralmente composto por ela,
letra e música, saiu em Portugal em 2012 em edição de autor. Mas foi
depois editado em doze países (incluindo Taiwan), distribuído no Reino
Unido e andou em digressão quatro anos, por vários palcos do mundo. E
foi nesse tempo que a antiga vocalista dos Madredeus começou a gerar o
novo álbum, a que deu o nome de O Horizonte
e que é estreado ao vivo este fim-de-semana, primeiro no Porto, na Casa
da Música (sábado 8, às 22h), e depois em Lisboa, no CCB (dia 9, 21h.)
Neste período, entretanto, a banda que a acompanha teve alterações. E só
quando ela estabilizou é que terminou verdadeiramente a composição do
novo disco. Com Teresa Salgueiro (voz), estão agora Rui Lobato (bateria,
percussão e guitarra), Óscar Torres (contrabaixo), Marion Valente
(acordeão) e Graciano Caldeira (guitarra). E todos eles assinam,
juntamente com Teresa, a autoria das doze músicas. “É um trabalho
colectivo. Existe a ideia de todos os músicos participarem activamente
na composição, chamando-os a ser autores, seja maior ou menor a sua
participação. É uma questão de união.”
Funciona assim: ela tem “muitas ideias de melodia e de voz”, que
apresenta, ou então surgem da parte de Rui Lobato e Óscar Torres (com
ela, os elementos mais antigos do grupo, o seu “núcleo duro”) “frases de
guitarra, de contrabaixo”. A partir daí, todos se envolvem, até que a
canção ganhe a forma que seja do agrado de todos. “Até que faça sentido.
A ideia é que cada um dos instrumentistas explore ao máximo as
capacidades do seu instrumento, e que, no final, seja uma música que nos
represente a todos.”
Temático e pessoal
As canções têm aqui, tal como no disco
anterior, nomes curtos, como pequenos quadros na exposição de uma ideia
mais vasta, uma história: Horizonte, Desencontro, A Cidade, Instante, A esperança, O vento, Êxodo, A luz, Maresia, Céu, Liberdade, Entardecer.
E quase todas elas têm, no início, pequenos sons indicativos: um canto
longínquo, o tique-taque de um relógio, trânsito, vento, mar, chuva,
tiros, pássaros. “Eu já tinha feito essa experiência no disco anterior,
só num tema, n’A partida. E gostei imenso. Aqui, os temas estão
muito ligados e a ideia era, não sendo excessivo, usar esses sons que
acrescentam alguma coisa da verdade que a música também quer comunicar. É
uma sugestão de caminho, de paisagem.” Explicando melhor: “O Horizonte
é um disco bastante temático e, por outro lado, bastante pessoal, não
no sentido autobiográfico mas no sentido do meu pensamento, da forma
como eu vejo o mundo. E ele sugere realmente um percurso. Aquilo que
está para lá do horizonte simboliza os nossos sonhos. Ele impele-nos de
certa forma a empreender um caminho. E é ao fazermos esse caminho que
vamos entrando em contacto com a realidade, com os elementos, e é isso
que está presente neste disco. É este percurso que faz com que essa
linha do horizonte nunca desapareça, mas se altere: os nossos sonhos
estão em constante mudança, assim nós continuemos o nosso caminho. É um
louvor à simples maravilha de estar vivo.”
O sonho e as raízes
Mesmo
a meio, há um tema (é o mais longo do disco) que é impossível não
relacionar com o drama dos refugiados. “Esse tema já existe há muito e
sempre se chamou Êxodo. Sempre achei que era a voz de alguém
que fazia uma travessia no deserto e sempre o quis dedicar aos povos
excluídos, que infelizmente sempre houve, desde há séculos. Depois
começou a haver esta guerra, a da Síria, que coincidiu. De qualquer
forma, é um tema que é positivo, porque começa por essa travessia, por
alguém que vai relatando tudo o que perdeu, mas que depois se refugia na
sua memória. E a memória é a única coisa que, no caso destas pessoas,
as consegue estruturar para sobreviverem a tudo aquilo que nós nem
imaginamos o que seja. E isso também é assim no caso de todos nós: esse
corpo que faz o caminho até ao horizonte é um corpo estruturado pelas
vivências, pela memória. Este Horizonte não só olha para o sonho, mas também para as lembranças, para as nossas raízes, para aquilo de onde nós vimos.”
Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/teresa-salgueiro-o-horizonte-e-um-louvor-a-simples-maravilha-de-estar-vivo-1746593
Foto: Susana Pereira.
Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/teresa-salgueiro-o-horizonte-e-um-louvor-a-simples-maravilha-de-estar-vivo-1746593
Foto: Susana Pereira.
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