Olá!
Nesta segunda postagem do blog, trago as letras de "O Mistério", primeiro trabalho solo da Teresa. Ela escreveu todas as letras do CD e compôs as músicas em parceria com os membros da Banda, Carisa Marcelino (acordeon), Óscar Torres (contrabaixo), Rui Lobato (bateria, percussão e guitarra) e André Filipe Santos (guitarra), que deixou a banda em 2013, sendo substituído por Graciano Caldeira.
"O Mistério" é lindo, envolvente, cria uma atmosfera intimista que nos leva a meditar em nossa condição humana frente aos desafios da existência particular e coletiva, como se estivéssemos caminhando numa madrugada e pouco a pouco a alvorada se anunciasse, primeiro com aquela luz tênue, depois o canto dos pássaros...
Clique no título da canção para ouvi-la no Youtube.
SENHORA DO TEMPO
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Com vagar
Senhora do tempo
Vai erguendo os seus braços
Balançando ao vento
Num murmúrio
Do ventre do solo
Brota lentamente a pequena semente
E na sua sombra
Vim então repousar
Meditei
Nobreza sem par
Exemplo de força
De total sabedoria
E eis que um dia o seu tronco imenso
Se transforma
Agora é o mastro
É o centro de um barco
O equilíbrio
E navega
Do rio vai para o mar
E circunda toda a terra
Segue o marulhar
Chega a um novo porto
Nas margens de outro rio
Ali Estão
Com vagar
Senhoras do tempo
Vão erguendo os seus braços
Balançando ao vento
CÂNTICO
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Oculta contemplo
A graça da tua figura
Secreta, calada
Vou compondo um chamamento
Vem comigo ver noite de luar
O firmamento
O brilho das estrelas, de todos os astros
Em movimento
Quisera eu
Imitar a sua dança, o seu encanto
Desnudar a minha esperança
Vê
No jardim o orvalho fresco já beijou
Todas as flores
Os frutos
Derramam um perfume encantador
Vibrantes cores
À já manhã
Vem por entre o arvoredo
Escutar o canto das aves
O doce segredo
Distante miragem
Do teu olhar um leve aceno
Quando não te tenho junto a mim
Todo o meu corpo é um deserto
Vem
Quero ouvir o som da tua voz
Suave torrente
Vê a Levante
O oásis que desponta
Vamos provar o néctar das romãs
Beber das fontes
E oxalá
Possam vir as minhas mãos a ser o bálsamo
P’ra sarar as tuas feridas
A FORTALEZA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Vou encontrar a coragem
Vou atravessar
Vou enfrentar a voragem da cidade
Um céu de nuvens negras, fechadas
Parece negar
Que das maiores tormentas
A luz vai chegar
A fortaleza e a virtude
Que forjei para mim
Não são de ferro ou de fogo
Eu não combato assim
A minha espada, o meu escudo
A minha oração
A minha crença nos versos de uma canção
A PAIXÃO
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
A minha alma
Sedenta de amor
Viveu num desencanto
Desolador
Até que tu vieste
O teu esplendor
Mudou o meu destino
E tudo ganhou cor
Eu despertei
Descobri a paixão
Uma visão celeste
A imensidão
Tu és para mim o Anjo
Que acalentou
O meu maior desejo
E me elevou
Só um olhar
Entendi.
O meu caminho
Levou-me p’ra ti
Secretamente reconheci
E só num olhar
Entendi quem eras
Deixei-me levar.
LISBOA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS E PEDRO PESTANA/FRANCISCO RIBEIRO
Letra: TERESA SALGUEIRO
Anoitece
Nas vielas e nas esquinas
Nas escadas e nas colinas
Nas calçadas feitas à mão
No bater do meu coração
Mas não me canso de percorrer
A cidade em que vim nascer
Onde o Tejo vem adormecer
E é uma porta aberta para o mar
Um convite p’ra navegar
E que abraça quem quer chegar
Desde sempre assim foi
P’la manhãs
Do Castelo desço a Alfama
Labirinto de casas brancas
Enfeitadas com andorinhas
E que é o berço de tradições
Do velho fado, das procissões
Das tabernas e dos pregões
e onde nas ruas pequeninas
Ainda ecoam trovas antigas
E se inventam novas cantigas
De louvor ao bom Santo António
Que Lisboa venera
Eu só queria desenhar nesta melodia
O amor à minha cidade
Teimosa fantasia
É assim
Que eu gosto de imaginar
Esta Lisboa secular
Onde habitam todos os povos
De tantas raças, velhos e novos
A cidade mais luminosa
Bela, mágica, radiosa
Eu vou sempre cantar
P’ra ti Lisboa
De entre todas a mais formosa
Bela, mágica, radiosa
Vou p’ra sempre cantar
O MISTÉRIO
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS e PEDRO PESTANA
Letra: TERESA SALGUEIRO
Nas ondas do mar
Na luz serena da chuva
Eu sei
Aguardo as palavras
Suspensas no silêncio
E vou
Abraço o medo
Que a memória traz
É no mistério
Que eu encontro a paz
Apenas o amor
Desvenda o segredo
Com calma, dissolve a dor
Para sempre hei-de guardar a promessa
É na força das águas que eu vou despertar
A FOGUEIRA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS e PEDRO PESTANA
Letra: TERESA SALGUEIRO
Dia de Festa
Haja alegria
É este o tempo de celebrar
Juntos iremos em romaria
Agradecer à Virgem Santa
No seu altar
De novo a terra foi generosa
Retribuiu farta colheita
A quem a cuidou
E a partilha justa foi feita
A harmonia recompensa quem trabalhou
E já na eira
Moços e moças
Fazem roda entrelaçados para bailar
Lembrando o sol
Ou uma fogueira
Noite dentro vão cantando
Até madrugar
Rostos alegres risos e palmas
A desgarrada vai começar
O vinho novo desperta as almas
A ironia vai lançando
Farpas no ar mas,
Ninguém se zanga
Tudo é folia
Assim se curam
Os pecados por revelar
E se renasce para um novo dia
Um novo ciclo recomeça
Vamos dançar
La la la la
La la la la la la la
É a dança da fogueira
ANDO ENTRE PORTAS
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Solidão,
Branca loucura
Amarga ilusão
Que me tortura
Eu caminho às cegas sem saber
A qual das portas vou bater
Há-de haver uma saída
Um sinal de luz na minha vida
Vou abrindo as portas
Quero ver
O horizonte que estão a esconder
Ainda hesitei
Quase dormente,
Há um mundo imenso à minha frente
Vou ter que saber por onde ir
Vou ter que escolher
Vou ter de partir
Não vou voltar atrás não vou
Sequer olhar p’ra trás
Não vou
Vou com a certeza
Já não há regresso aqui
Desato a tristeza
Soltei as amarras
Leve como num sonho eu vou
Sem regresso
Sem amarras
A BATALHA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
A luz da manhã
Revela, anuncia
Ó terra, a esperança não é vã
Renasce a cada dia
E o sonho é lugar
Da criação
Vem, longe, um vento agreste
Trazendo outra vontade sem regresso
Sob o céu cinzento, a terra seca
Como é seco o sangue que a manchou
Dos corpos que tombaram, resta o esquecimento
Naqueles cuja razão os ceifou
Em quem lhes deu a vida, a mágoa imensa
O gesto mudo, que já nada alcança,
É o vazio agora, a única presença, e para sempre
Do calor do abraço, uma lembrança
Eu posso dizer não
A “matar ou morrer”
A minha direcção é ser
Tenho a minha vontade
Exerço a liberdade
Bastaria começar
E cada um seria mais um
A defender a vida
A PARTIDA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Um dia quando deixar
A minha breve morada
Serei apenas leveza no ar azul
Da madrugada
Suave neblina
Ou espuma do mar
Um instante fugaz?
Não voltarei a sentir
A luz do sol no meu rosto
Nem a frescura das águas na pele
E tantas coisas que eu gosto
O ar das montanhas
O canto das aves
O cheiro da terra
Eu só queria dizer
Que agradeço e me abandono
Tenho o amor que me ensina a viver
Enquanto espero o Outono.
Só quem amei me acompanha
Me ampara
Só o amor ficará.
AUSÊNCIA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Voltei de novo ao cais
Lembrei a despedida
O teu olhar tão triste
A minha voz contida
Não sei dizer adeus
Estou presa à tua imagem
Rogo a Deus e aos céus
(Que) seja breve a viagem
Encontro a tua ausência
Em todos os lugares
E colho a tua essência
Nas coisas mais vulgares
Será que és constante
Às juras que fizeste
Ou por um só instante
De todo me esqueceste?
Já sequei o meu pranto
Calei o meu lamento
Mas vou contando as horas
À espera de encontrar-te
Diz-me que não demoras
Diz-me que não é tarde
A MÁSCARA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Sempre
As mesmas palavras
Tornadas máscaras
P’ra convencer‐te
São ideias vagas
Sobre a verdade
E tu podes perder-te
Desperta
Pois na realidade
Existe a verdade
A palavra mais certa
Mantém sobre o mundo
Um olhar
Profundo
Um olhar sempre alerta
Avança
Atento ao compasso
Ocupa o teu espaço
Um lugar nesta dança
E com paciência
Imprime a urgência
Promove a mudança
Todos somos igualmente sós
Pouco a pouco vais saber quem és
Reparte
O teu pensamento
Escolhe o momento e vai por toda a parte
Mas reflecte bem
Pois pensar também
Deve ser uma arte
As mesmas palavras
Existe a verdade,a palavra mais certa
Vai por toda a parte
A ESTRADA
Música: SALGUEIRO/MARCELINO/TORRES/LOBATO/SANTOS
Letra: TERESA SALGUEIRO
Deixei
P’ra trás
A Terra Mãe
Se calhar, não vou voltar
Ainda não te encontrei
Sou
A minha casa
Os passos que dei
Já vai rompendo a alvorada
E eu não pertenço a ninguém
Sigo esta estrada
Onde comecei
A mesma estrada
Que vislumbrei
O horizonte é tão largo
É um nunca acabar
Tudo muda à minha volta
Pareço estar sempre no mesmo lugar
E será que amanhã
Ainda vou recordar
As promessas que fiz
Junto ao mar?
Será que vou saber
Quando parar?
Cair nos teus braços
E enfim descansar
A ESPERA
Música: Teresa Salgueiro | Carisa Marcelino | Óscar Torres | Rui Lobato | André Santos e Pedro Duarte Pestana
Letra: TERESA SALGUEIRO
É a saudade
Que me transporta
A um lugar de claridade
Que me conforta
Lembranças vagas
De horas perfeitas
Tão distantes
Desfeitas
Pois já não voltam.
Mas que me importa?
Eu não me sinto só
Tenho a saudade a meu lado
A minha âncora
O teu sorriso de sol
Todos os pequenos gestos
O sopro de um aguaceiro
A grandeza dos espaços
A partida, um regresso e os abraços
E as lágrimas que se guardaram
Os pés marcados na areia
Um barco que se desprende
E nas ondas serpenteia
Uma estrela que se afasta
Está tudo aqui.
Canto a saudade
Canto esta espera
Canto a saudade
Canto a saudade e a espera
Canto a saudade
Canto esta espera
A eternidade
Canto a saudade
Aqui o tempo não me consegue alcançar
Canto a saudade
Canto esta espera
A eternidade