quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Entrevista ao Diário do Minho

Olá!


A linda entrevista que vos trago foi concedida pela Teresa ao Diário do Minho, edição 29779 de 22 de novembro de 2012. A edição em PDF pode ser encontrada aqui: http://www.diocese-braga.pt/media/contents/contents_1XfFL_/igreja%20viva%2022%20novembro%20(2).pdf



"Sem esperança não vale a pena estarmos aqui."



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Entrevista ao Jornal das Autarquias



Olá!

Continuando a série de entrevistas que estou reeditando de outros sites, trago a que ela concedeu ao Jornal das Autarquias, disponível no endereço http://www.jornaldasautarquias.pt/entrevista-teresa-salgueiro.php


"J.A.- D. Teresa, antes de mais, tenho a agradecer a disponibilidade que teve em nos conceder esta entrevista.
T.S.- Ora essa, eu é que agradeço.

J.A.- A primeira pergunta que lhe quero fazer é sobre a sua infância. Sei que nasceu em Lisboa, no dia 08 de Janeiro de 1969. Depois veio morar para a Amadora onde viveu até aos 21 anos. Quer nos falar sobre essa época?
T.S.- A minha infância, na Amadora, foi uma infância normal. Frequentei um colégio, o Cisne, um colégio que ainda hoje existe, mas já morreu a Direcção. Um colégio onde gostei muito de andar. Fiz lá a primária, depois passei para o Bairro de Janeiro, não sei se hoje ainda existe. Foi uma fase em que não havia professores, foi uma época conturbada pelo momento que se estava a passar na altura. Mas, em termos de infância, posso dizer que foi uma infância feliz. Na altura, a Amadora era um local bastante mais sossegado do que é hoje. Eu era uma criança que passava muito tempo em casa, não era das que passavam o tempo na rua, porque na altura viviam no mesmo prédio as minhas primas e as brincadeiras passavam por brincarmos em casa ou então no colégio. Lembro-me de irmos todas brincar no jardim, que ainda hoje existe, penso que é o parque municipal, perto da estação.
Lembro-me de ir apanhar o comboio, para ir a Lisboa, com os meus pais. De resto, não tenho qualquer referência em particular a não ser as familiares. Os meus pais já viviam na Amadora há muitos anos, pois o meus avós já lá viviam. Os meus pais lá se casaram, de resto, insisto, não tenho quaisquer outras referências a não ser as de uma criança normal. O liceu fi-lo em Queluz e, a partir daí, comecei a desligar-me mais da Amadora, ficando apenas o percurso que eu fazia a pé, todos os dias, da casa para o liceu, ida e volta.

J.A.- Sei que foi o Rodrigo e o Gabriel que a descobriram, no Bairro Alto?
T.S.- Descobriram, é como quem diz, eu estava a cantar, eles ouviram e convidaram-me para fazer uma audição para um grupo, que estava a ser formado na altura, que se veio a chamar Madrededeus.

J.A.- Quer-nos falar da sua vivência no Madrededeus?
T.S.- É uma vivência de muitos anos, que não é fácil resumir. Foi uma vivência de 21 anos, vivência muito interessante, que me levou a conhecer países nos quatro cantos do mundo. Deu-me a oportunidade de me apresentar nos melhores teatros do mundo. Foram 21 anos de viagens e de dedicação completa a um grupo que fazia uma música original, cantada em português, e eu dediquei-me a essa aventura com toda a disponibilidade durante esses anos.

J.A.- A sua voz é uma voz impar no nosso país. Vai utilizá-la, a solo, durante muito mais anos?
T.S.- Olhe, até ter saúde para isso. Graças a Deus tenho tido saúde e como aquilo que eu gosto de fazer é cantar, pretendo cada vez mais criar disponibilidades e ter a capacidade de me organizar de modo a que me possa dedicar cada vez mais à música. Portanto, desde que eu tenha saúde e voz, irei cantar até poder.

J.A.- E sobre a sua discografia a solo, o que é que nos pode dizer, uma vez que ainda é muito recente, fins de 2007?
T.S.- O primeiro disco editado em meu nome, a que chamei “Obrigado”, é um disco em que fiz a compilação de algumas das parcerias, que ao longo dos anos de trabalho com os Madredeus, fui fazendo com outros artistas, que me convidavam a mim ou ao grupo para participar com eles, e, algumas dessas participações, estão incluídas nesse trabalho “Obrigado”.
Depois, o ano passado, um ano de paragem, de reflexão, para se concluir se o grupo havia de continuar ou não, editei dois discos diferentes, um deles com um grupo brasileiro, oriundos de São Paulo, com os quais estou neste preciso momento, em tournée. Já estivemos em Almada, Montemor-o-Novo, Figueira da Foz, Milão, na Sérvia e estivemos, dia 11 de Julho, no Luxemburgo. Neste período, porque, há um mês atrás, fiz com eles uma tournée no Brasil, onde nos apresentámos em diversas cidades brasileiras. No ano passado, estive com eles no México, em Israel e apresentámo-nos várias vezes em Portugal, Espanha e França. Paralelamente a este projecto que começou com a gravação de um disco, onde fizemos a recolha de vinte e duas canções da música popular brasileira, grandes êxitos nas épocas dos anos trinta a setenta, são canções de diversos autores e compositores que eu muito admiro, são canções das quais eu gosto muito. Tive a oportunidade de as cantar porque conheci o maestro Preisnner, em São Paulo, e, à admiração que eu sempre nutri por estes autores e compositores, se juntou a oportunidade que eu tive durante muitos anos de viajar no Brasil, a cantar e de me aproximar da realidade da música brasileira, que é muito música cantada em português, com um universo poético que eu considero muito inspirador e muito rico na música, no Brasil. Afinal, foi o cumprir de um sonho que aconteceu com muita naturalidade - o encontro - porque também chamei ao disco “Você e Eu”, que é o nome de uma das canções que apresentou o nosso projecto por todo o lado onde nos apresentamos.
Também, no ano passado, gravei um disco a que chamei “La Serena” que é o nome de uma das canções, uma canção do cancioneiro ibérico, do século XVI. Além dessa canção, que é cantada em latim, gravei dezasseis canções, um disco que reflecte um pouco as viagens que fui fazendo ao longo dos anos em que tive oportunidade de aprender a falar várias línguas e também reflecte o desejo que eu tinha em cantar outro géneros, cantar outras canções que eu há muitos anos gostava de experimentar cantar. Tive a oportunidade de conhecer o violinista Jorge Barrocoso Gonçalves, director do “Lusitânia Ensemble”, com os quais gravei o disco. O “Lusitânea Ensemble” é um quinteto de cordas, com piano e percussão, e gravámos canções de diversas nacionalidades, uma italiana, uma francesa, uma angolana, uma argentina, uma de Cabo Verde, uma mexicana, portuguesas e brasileiras. Comecei, com eles, o ano passado. É um projecto muito interessante onde temos viajado por diversos países da Europa, um projecto que tem sido muito bem recebido. É um disco que apenas foi editado em Portugal e Espanha, porque já não é um disco da EMI, ou seja, o disco “Você e Eu”, foi o meu último disco como artista da EMI-Internacional e,este disco “La Serena”, é um disco independente, em Portugal licenciado pela PAROC, em Espanha pela editora Resistência. Um projecto que tenho muito gosto nele.
Ainda, no ano passado, saiu um outro disco de um compositor polaco, “Zbigniew Preisner, chamado “Silence Night and Dreams” e fui convidada para ser a voz solista desse trabalho, do qual também tenho canções. Tenho feito concertos em vários países da Europa e nas mais conceituadas salas de espectáculos, mas este é um projecto diferente, pois trata-se de um projecto de música sinfónica, com couro e instrumentos líricos. As canções que eu canto são todas em latim e as palavras são retiradas do livro de Job, do antigo testamento.
Agora, recentemente, e que já teve a sua estreia, há um disco de canções napolitanas, tendo ainda apenas um único concerto, no teatro de S. Carlos, em Nápoles, onde eu me apresentei a convite de um quarteto de cordas italiano, que são napolitanos, e que fizeram uma recolha de canções desde o século XV/XVI até aos nossos dias, de canções napolitanas. Foi uma apresentação inesquecível, dizem que é o teatro mais antigo da Europa, um teatro belíssimo e foi, para mim, uma noite inesquecível.
Entretanto, estou a preparar outras coisas mas ainda é cedo para falar pois estão ainda em embrião.

J.A. -Esperamos ter notícias suas em breve.
T.S.- E eu as darei com toda a certeza.

J.A.- Não sei se está a par do que se está a passar na Amadora, uma vez que já saiu de lá há algum tempo?
T.S.- Os meus pais ainda lá vivem, mas a coisa que eu me lembro mais e sei que é bastante apreciado foi a melhoramento de um parque junto à estação, já tem muitos anos mas, agora, com este melhoramento, é de muito uso para a população. No entanto, não estou muito a par do que se passa na cidade, uma vez que se tornou cidade, cresceu imenso, tem uma grande densidade populacional, com uma grande componente africana, que eu acho muito interessante. De resto, não tenho assim grandes conhecimentos das coisas, mas lembro-me do cinema, do velho cinema “Lido”, que era muito bonito, onde eu ia. Não sei se estão os dois a funcionar, ou não, seria bom fazer dali um espaço de cultura mas, neste país, cultura é, por muitas vezes, esquecida."






domingo, 27 de outubro de 2013

Entrevista à revista Leal Moreira

Olá!

A seguinte entrevista foi dada a Lorena Filgueiras pela revista Leal Moreira, disponível no endereço http://www.lealmoreira.com.br/revista/conteudo/gente/ave_teresa


Ave, Teresa


Teresa Salgueiro, uma das mais respeitadas cantoras portuguesas no exterior, vive um momento de graça: seu primeiro disco autoral é sucesso na Europa e ela planeja trazer o show para o Brasil.

Ela foi descoberta ainda garota. Aos 17 anos, cantando com amigos em uma típica tasca portuguesa, a lisboeta Maria Teresa de Almeida Salgueiro tornou-se vocalista do nascente “Madredeus”, em 1986. Iniciava ali a carreira da cantora portuguesa mais famosa no exterior, depois de Amália Rodrigues. Segundo Pedro Ayres de Magalhães, um dos fundadores e diretor do Madredeus, Teresa foi, por vinte anos, “a maior inspiração do grupo”. E não havia exagero algum nessa declaração. Só consegue entender a força das palavras de Pedro Magalhães quem se entregou à magia da voz de Salgueiro. Sem qualquer educação musical formal, revelação surpreendente para nós, não resta muita dúvida de que Teresa foi tocada por uma “existência superior” – como a crítica costuma fazer referência e se render ao seu talento inquestionável. Além da beleza clássica, que foi explorada em quase todas as capas dos discos do Madredeus, a cantora – que possui hábitos muito simples – é extremamente educada e adora o contato com os fãs, além de frequentemente interagir com eles por meio das redes sociais.
A notícia da saída de Teresa Salgueiro do Madredeus, em 2007, assombrou o mundo da música, mas foi o marco inicial de uma carreira solo que já havia sido consolidada, muito antes de seu início propriamente dito. Vivendo um momento de graça, de mais autonomia e compondo suas próprias músicas, ela revela, em entrevista exclusiva à Revista Leal Moreira, toda sua trajetória em bastidores e à frente, no comando da sua própria história. Com vocês, “o mistério” revelado de Teresa.
Você começou muito jovem no Madredeus, aos 17 anos, quando te ouviram cantar em uma tasca em Lisboa, certo? O Pedro Magalhães, certa feita, declarou que você era a grande inspiração do grupo. E a gente tem de concordar que você tem uma voz única, inesquecível. Como começou tua história com a música? Você teve uma educação musical?
Eu tive uma educação musical básica, daquela que você tem na escola, não mais que isso. Tive aulas de piano, durante alguns anos, mas também de uma forma não muito aprofundada, digamos assim. Quando eu comecei a cantar, eu não tinha qualquer tipo de formação.
Apesar de uma não-educação formal musical, de uma forma geral e quase uníssona, os críticos dizem que ao longo dos anos sua voz amadureceu e que ficou ainda mais bonita. Você tem esse mesmo senso crítico?
Como eu te disse, quando comecei a cantar, não tinha qualquer tipo de formação musical formal em relação ao canto. E ainda hoje, devo dizer que não tenho muita formação. A minha grande formação são as canções que eu cantei durante quase vinte anos com o próprio Madredeus e com outros projetos dos quais participei. Algumas dessas canções, gravadas também ao longo desses anos, inclusive foram reunidas em um álbum (“Obrigado”), que foi lançado em 2005. E há muitas outras parcerias em outros projetos. Tudo que eu tenho cantado, no fundo, tem sido a minha grande escola. No início – e isso é possível observar – o primeiro disco que gravei, ou melhor, que o grupo gravou (“Os dias da Madredeus” – 1987), foi feito, de certa forma, de maneira “precária”, porque o disco foi gravado em três madrugadas, direto, sem qualquer direção. Não tinha escola, enquanto cantora, e não tinha direção para o grupo. E quando eu ouço esse disco – do qual gosto imensamente – reconheço uma total espontaneidade e uma falta da direção que, de fato, não havia. É um disco puro, espontâneo. Anos mais tarde, em nosso primeiro disco de estúdio, o “Existir” (1990), é possível perceber uma grande diferença na voz e aí eu já havia começado a ter aulas particulares de canto, por três anos e mais um ano em conservatório. E assim foi quando iniciamos a turnê de “O Espírito da Paz” (1994), que foi o terceiro disco gravado em estúdio. E aí... o processo de aprimoramento continua até hoje (risos).
De certa forma e por muito tempo, sua imagem e a do Madredeus fundiram-se – isso te incomoda? Quase seis anos após sua saída, como você avalia sua saída do grupo e como vê sua própria trajetória em carreira solo?
(risos) Essa pergunta contém muitas perguntas, mas vamos lá. Voltando, por exemplo, ao “Obrigado”, que foi um disco resultado de uma coletânea, por assim dizer, dos trabalhos “solos” que realizei quando ainda estava com o Madredeus. E é possível observar diferenças entre as faixas. Eu sinto uma disparidade na voz, inclusive, porque as músicas foram gravadas em períodos muito distintos. Em relação ao grupo, é absolutamente natural que a imagem seja associada. Por muito tempo, dediquei-me a cantar o repertório do grupo, a divulgar seu pensamento, sua obra. E isso ocorreu por vinte anos. Quando entrei no grupo, eu tinha 17 anos. Logo eu tenho muito mais tempo de vivência no grupo do que tinha de vivência de mim mesma. Entendo perfeitamente que as pessoas ainda me associem aos Madredeus – estranho seria se não fizessem essa associação (risos). Agora, me permita uma observação: o grupo de trabalho que existia quando entrei, foi o mesmo por dez anos. Quando eu saí, o grupo era totalmente diferente. Da formação inicial, no período da minha saída, em 2007, só estavam o diretor do grupo (Pedro Ayres de Magalhães) e o José Peixoto, um virtuose da guitarra, que contribuiu enormemente para o trabalho. Fui me adaptando a todas essas mudanças, até que surgiu um momento em que o grupo parou durante um ano [período que foi definido, por eles mesmos, de “sabático”, em 2007] com ideia de repensar sua atividade, sua própria “calendarização”, porque – imagine você – foram duas décadas intensas. Tínhamos falado até da hipótese de trabalhar em períodos intensivos, de 3 ou 4 meses, e depois os músicos poderiam dedicar-se a outras atividades – já que os músicos tinham outros projetos, outras coisas que desejavam fazer. Quando nos reunimos novamente, ao final de 2007, foi-me proposto um contrato de sete anos de exclusividade e... Passei toda minha vida adulta no grupo, tinha vivido suas diferenças... Os amigos do começo da carreira, da formação original do grupo, já não estavam – e no começo, o Madredeus era uma reunião de amigos, que depois se profissionalizou. E, portanto, pelos próximos 7 anos, eu não poderia fazer mais nada, o que era impossível. Ou era isso, ou era nada, não havia muito a possibilidade de flexibilizar. Vou insistir que havia muito mais tempo da Teresa com o grupo, do que da Teresa sem o grupo.  E eu tinha necessidade de parar um tempo, enfim, para ficar em casa, por exemplo, para o que fosse ou para experimentar novas coisas, de modo que eu decidi que continuaria meu percurso na música. E eu vivi, após isso, tantas novas experiências, novos ensembles,novos estilos... sempre à procura dos músicos, com os quais compus as músicas e gravei em agosto de 2011 [“O Mistério”, CD que ela lança este ano e com o qual pretende vir ao Brasil]. 
Lembro-me de ter ouvido muitas vezes que havia uma discordância saudável sobre o gênero musical no qual vocês estavam inseridos: fado, world music e alguém definiu como “um espírito muito próximo do fado”. A crítica especializada diz que você é a herdeira legítima da Amália Rodrigues. E voltando um pouco à pergunta inicial, em qual dos gêneros musicais você se insere?
Eu não sinto a necessidade de rotular ou categorizar a música. De maneira nenhuma. O fado é uma música tradicional de Lisboa e Coimbra e que viveu seu apogeu e desenvolvimento com a Amália Rodrigues, com toda sua indulgência, da sua extraordinária versatilidade enquanto cantora. Antes, o gênero era considerado muito “marginal”, restrito apenas às casas de fado. E graças a ela – e a outros artistas, mas muito mais graças a ela, certamente – o fado popularizou-se e saiu das casas do fado. Não era muito bem visto ser fadista e, graças à Amália, isso tudo mudou completamente. Em termos líricos também, porque ela começou a cantar poetas contemporâneos e foi buscar outros, de outras épocas. Graças ao trabalho da Amália, a Unesco reconheceu o fado como patrimônio imaterial da humanidade. Quanto ao fado, não vejo relação com o que fiz por quase 20 anos. Talvez a única relação seja o fato de eu ser de Lisboa. Com o Madredeus, cantávamos uma fusão de vários estilos e, com certeza, algo muito próximo ao estilo do fado era realizado, mas o que predominava era um estilo clássico, uma estrutura clássica de execução da canção. Também não era world music, uma etiqueta muito usada para a música étnica. Portanto, o que eu faço é música portuguesa, é música contemporânea, uma fusão de muitos estilos diferentes. Ligada à memória do que é a cultura portuguesa, com influências de outras culturas, o que é muito enriquecedor. Também não se pode confundir a música que faço agora com a música que cantei por quase duas décadas. Durante esses vinte anos, as músicas eram compostas para mim e hoje canto minhas próprias palavras.
Em 2005, quando você lançou um trabalho solo (“Obrigado”) você gravou com músicos brasileiros – o que você primeiro conheceu da música brasileira? Você chegou, inclusive, a se apresentar com um espetáculo e repertório inteiramente brasileiro (“Você e Eu”, 2007) – o que mais te agrada na música brasileira?
O “Obrigado” corresponde a gravações feitas em 15 anos, de forma dispersa, portanto não se pode confundir com um disco gravado de maneira organizada, como o “Você e Eu”, que foi inteiramente gravado no Brasil com um grupo de músicos brasileiros, em São Paulo. E esse foi um projeto muito interessante que surgiu. Mas eu me lembro, muito jovem, de ter ouvido tanto na rádio João Gilberto, Tom Jobim, Elis Regina, Dorival Caymmi, Chico Buarque. A indústria fonográfica brasileira é muito respeitada, organizada e os artistas têm uma enorme aceitação aqui, em Portugal. Desde aquela época, cantores como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa visitavam e visitam Portugal com muita regularidade e, portanto, desde sempre os seguia com muito interesse. Ainda tem a questão da sonoridade, não é? O português de Portugal e o português do Brasil, embora seja a mesma língua, são dois “portugueses” diferentes e é muito interessante perceber como a língua é usada no Brasil, como os temas que inspiram os cantores são diferentes. Sempre tive e tenho muito apreço pela música brasileira pela vitalidade que emana dela. E por essas razões, quando surgiu a oportunidade, foi um privilégio viver, por dentro, essa alegria que eu vivia por fora.
Você está trabalhando na divulgação do seu primeiro álbum autoral – O Mistério, certo? Foi um processo criativo laborioso ou fluiu naturalmente? Quais foram suas influências, sua inspiração maior?
Ah, preciso dizer que foi um processo interessante. Eu precisava encontrar as pessoas para executar esse trabalho e elas foram aparecendo ao longo dos anos, justamente nos trabalhos “solos” que fiz mesmo no Madredeus. Entre 2007 e 2010, tive a sorte de encontrá-los e começamos a compor em janeiro de 2011, sendo que antes disso já havíamos nos apresentado juntos com um espetáculo chamado “Voltarei à minha terra” – que levamos, inclusive, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Fortaleza –, que consistia na interpretação de diversos temas da música clássica portuguesa do século XX. E foi um espetáculo que correu a Europa e a América Latina e em janeiro de 2011. Começamos um período de construção das músicas, das letras e em agosto de 2011, gravamos o disco (“O Mistério”)... Durou bastante tempo, porque conciliamos as gravações com a turnê do “Voltarei à minha terra”. Mas facilitou muito que a maioria do grupo vivesse em Lisboa. Foi um processo muito fluido. É meu primeiro disco como solista, desde o trabalho de composição, ao exercício da escrita. A forma como tenho me comunicado com diversas culturas foi um desafio, mas me sinto muito recompensada.
Você gravou seu disco em um convento, não é? O que determinou essa escolha? Foi técnica ou a atmosfera a ajudou?
Depois de conceber as letras e aproveitar cada momento de inspiração, de ideias, o objetivo era gravar em um lugar que não fosse um estúdio convencional. Nós queríamos estar isolados, concentrados na música e tanto decidimos buscar um lugar onde isso fosse possível. Encontramos o Convento Da Arrábida (construção do século XVI), na Serra da Arrábida, que é simplesmente um lugar magnífico, em uma montanha verdejante, de frente para o Oceano Atlântico. É um lugar que eu procuro muitas vezes para rezar e que me agrada particularmente. E nesta serra existe um convento que eu nunca tinha visitado... E que fui visitar e descobri que havia uma hospedaria, que servia para receber grupos de trabalho, convenções, para estudo. E a tipologia da casa, que fica precisamente de frente para o convento, era ideal, perfeita aos nossos propósitos. Deslocamo-nos para lá e gravamos o CD lá, em meio à tranquilidade, a um ambiente inspirador e dentro do que queríamos: completo isolamento. E foi muito um privilégio gravar lá, em meio a uma natureza magnífica. O resultado é que podemos dizer que este disco fica para sempre ligado a um lugar muito especial.
Você veio a Belém em 2000 e parece que uma única apresentação foi insuficiente, já que a apresentação foi ao ar livre e lotou as ruas próximas ao palco. Tem planos de vir ao Brasil para divulgar “O Mistério”? E sendo bem tendenciosa, a Belém?
Sem dúvida. E mesmo com os projetos anteriores (“Você e Eu” e “Voltarei à minha terra”) não deixei de ir ao Brasil, que é um país do qual gosto especialmente e me sinto muito bem recebida. Com “O Mistério”, já há datas para muito em breve, só não vou adiantá-las agora porque elas não estão absolutamente confirmadas. Mas serão muitas datas. O disco, em Portugal, foi editado por mim e saiu em maio de 2012, mas já aconteceram edições em muitos outros países: Itália, Espanha, México, Polônia, Reino Unido. Em breve, Luxemburgo, Bélgica... E a turnê brasileira acontecerá, bem como a edição do disco também.
Promete que você vai se apresentar em Belém...
(ela cai na gargalhada) Prometo que quero ir. Gostaria de reencontrar Belém.
Você é tida como uma artista muito acessível, que gosta de interagir com os fãs em redes sociais, que possui hábitos simples... O que você mais gosta de fazer quando não está trabalhando?
Olha, eu preciso te dizer que exerço uma atividade que se confunde muito com minha vida privada. A música faz parte da minha vida e é com alegria que construo esse percurso com a música. Portanto, dedico os tempos livres à música também (risos). Neste momento, inclusive, já estou me dedicando a um novo repertório, que pretendo gravar brevemente. Mas nos meus tempos livres, realmente livres, eu dedico aos meus amigos, que são poucos, já que a rotina de um músico não permite muitas relações duradouras fora deste meio. Mas eu realmente cultivo hábitos muito simples: gosto de ler, de ver um bom filme, de ficar com minha família. E aproveito minha filha (Inês, de 14 anos). Penso que nossa vida, nossa felicidade se constroem dia a dia e nas coisas mais simples. A realização da felicidade reside mesmo nas coisas mais simples, que podem parecer não terem grande significado – são esses momentos que fazem minha alegria e felicidade.
E qual é o mistério de Teresa?
Talvez falte dizer que o mistério, o que eu escrevi, os meus textos, sejam uma fusão de nossos diferentes percursos, das emoções, tanto minhas quanto dos músicos. No fundo, baseia-se muito na minha experiência, na minha visão do mundo, que tive o privilégio de conhecer por meio das viagens que a música me proporcionou. O mistério é uma reflexão da vida. Aos seres humanos não nos é dada a capacidade de se conhecer, ou melhor, conhecemos tão pouco do que nos rodeia e sabemos que há coisas para as quais nunca teremos respostas, mas a aceitação deste mistério nos ajuda a ter uma noção de nossa dimensão, do quão frágeis somos e da força que temos, por meio da nossa criatividade, de nossa capacidade em mudar o mundo."



sábado, 26 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro em entrevista


Olá!

Esta entrevista que encontrei no site http://www.madredeus-osonho.net/Teresa.htm é antiga. Foi concedida a Olívia Azevedo no dia 03 de junho de 2000.


"Há treze anos, Teresa Salgueiro entrou numa "grande aventura", chamada Madredeus, à qual, e desde então, ficou a dever a própria formação de grande parte da sua personalidade. Desde os 17 anos que a sua vida é preenchida com um projecto que revolucionou, inclusivamente, a marcha das bandas em Portugal. Nesta entrevista, a cantora fala sobre o que deixou para trás e qual será o caminho a seguir daqui em diante. Longe de uma infância em que brincava aos festivais da canção, não parou, contudo, de sonhar com música e com o reconhecimento do público. Afinal, é este que dá sentido ao esforço de um artista. Com o decorrer dos anos, a sua vida mudou. Ao engravidar de Inês, hoje com 19 meses, e a melhor experiência da sua vida, o ar despreocupado da cantora deu lugar a uma mãe atenta.

Em alguns casos, a perda de anonimato implica também uma mudança de identidade. Como foi no seu caso?

Nos últimos anos passei muito tempo a viajar, pelo que nunca pensei muito na perda de anonimato. Ultimamente já sinto mais que sou reconhecida. Gosto que as pessoas gostem de me ouvir, e quando me reconhecem expressam-se sempre de forma carinhosa. O resto, é uma questão de gestão da vida pública e privada. Todas as pessoas têm uma personagem social. É o chamado teatro da vida. Algumas pessoas têm apenas mais exposição pública que outras. No meu caso, e dos Madredeus, trata-se da construção de uma personagem criada, ao longo destes 13 anos, por mim e pelos músicos. Em palco desenrola-se uma história que não é a minha.

Em que pensa quando está em palco?

 Estar em palco é viver um momento de comunicação muito particular com o público, em que dou o meu melhor por forma a transportar até ele aquilo que sonhamos.

Tinha 17 anos quando entrou para o grupo. Até que ponto a própria banda foi responsável pela formação da sua própria personalidade?

Dos 20 aos 30 anos, que é uma parte muito importante da formação, a minha vida foi passada com o grupo, pelo que é normal que a personalidade se vá formando, pois julgo que não é tão estanque quanto o carácter de uma pessoa. Nunca tinha feito projectos muito sólidos para ser cantora. Sempre cantei desde pequena. As brincadeiras, com as minhas amigas, passavam sempre pela organização de festivais da canção, que na altura se viviam com muita intensidade, mas nunca disse: "Eu quero ser cantora." De facto, tive uma grande sorte que virou totalmente a minha vida.

Quais eram as suas grandes referências musicais nessa altura?

Na altura tinha descoberto o fado, que permaneceu, até hoje, uma grande paixão para mim. Cantava temas de bossa nova e da música popular portuguesa. Essas eram as minhas referências mais fortes. Foi uma feliz coincidência ter descoberto um grupo que fazia uma música com a qual me identificava. Para além do facto de ter constituído família, o ponto central da minha vida tem sido a vida dos Madredeus. Quando olho para os primeiros temas que interpretei sinto um enorme carinho. É impressionante a distância e a atitude, tão diferente dos dias de hoje. Também há coisas que hoje ouço e das quais não gosto nada, mas sei que eram o mais sincero possível.

Como era a Teresa de então?

 Era muito entusiasta e sonhadora. Acreditei completamente nesta aventura e entreguei-lhe toda a minha vida, mas também foi numa idade em que não poderia deixar de acontecer. Não tinha mais nada para além da música. Era mais despreocupada do que sou hoje.

O preto foi uma cor que adoptou para a banda?

Já usava no dia-a-dia, e continuo a usar muito. Se bem que em palco seja menos recorrente. Sempre achei a nossa música muito pictórica, aponta muitos caminhos, fala de muitas cores e paisagens. Uma cor é o indício de qualquer coisa, mais do que a ausência dela, e o preto não é cor, é a ausência dela. Já tenho ouvido falar em ‘animais de palco’ (risos), eu não me considero isso, apesar de perceber a expressão e achar que certas pessoas nasceram para estar em cima de um. O palco tem sido ao longo dos anos uma conquista.

Jeans e t-shirts ficaram irremediavelmente guardados num baú?

Nunca me senti muito bem com Jeans e t-shirt, mas ando de ténis e visto-me do modo mais prático possível no dia-a-dia. Se calhar, por isso, visto-me de preto porque é fácil. Quando se tem uma exposição pública grande, o preto acaba por ser uma cor fácil que fica sempre bem. Não ando sempre vestida de preto, é mais no Inverno.

Ouvindo-a falar do seu percurso, parece que nunca teve de fazer sacrifícios, que tudo se foi encaixando. Já teve fases menos boas?

 Tive sempre de fazer uma escolha, mas a minha opção foi sempre muito clara: ter o privilégio de poder cantar e de viajar pelo país e por outras culturas. As coisas têm sempre o seu peso. Nunca se tem tudo, e sei que ao partir deixo coisas para trás. Mas parto com o meu entusiasmo e também com o daqueles que ficam, porque tenho o apoio dos meus pais e também da família que entretanto constituí. Houve uma altura em que eu e o Rui, o meu marido, não conseguíamos, organizarmo-nos por forma a ser maior a nossa permanência em casa, mas agora tanto eu como ele e o próprio grupo temos vindo a moldarmo-nos em torno destas relações. Nem sempre é fácil, mas sempre tive o maior apoio e entusiasmo do meu marido e da minha família. Sempre entenderam até que ponto tudo isto era extraordinário.

Não entrou em pânico quando soube que ia ser mãe, tendo em conta os calendários dos espectáculos e novos discos?

 Vivo muito um dia após o outro, e só assim tem sido possível viver até agora e gerir a minha entrega ao grupo. Quando soube que ia ser mãe percebi que iria ser difícil, porque era a introdução de um factor completamente novo e exterior, mas da parte do grupo recebi a maior compreensão e tenho podido levar a minha filha nas viagens. Penso que ela também me ajuda a organizar-me interiormente, e vou percebendo, à medida que ela cresce, que opções tomar para continuar a corresponder às suas necessidades.

Como será quando ela tiver de se fixar numa escola?

Eu escolhi ter filhos e não o contrário. Estou ciente de tudo isso. Sei que vai haver uma altura em que ela não me poderá acompanhar. Nessa altura, espero poder acompanhá-la o melhor possível e estabelecer o equilíbrio entre as minhas necessidades e o meu trabalho. Tenho-o conseguido gerir no limite, mesmo antes de ser mãe. Mesmo para o meu trabalho é um acréscimo, porque me obriga a saber, cada vez mais, quem eu sou através da minha filha. Claro que tenho muitas dúvidas que todas as mães passam, mas sei que a minha filha só me trouxe coisas, não me veio retirar nada. É a melhor experiência que eu vivi até hoje.

Como é a sua relação, enquanto mulher, num grupo de homens?

É evidente que há sempre conflitos de interesses e o grupo existe dentro da disponibilidade de cada um. Até hoje, sinto-me completamente apoiada. Quando percebo qual é o meu ponto de equilíbrio e o consigo comunicar aos outros, ele é completamente respeitado. Não se pode ter um grupo que viaja para todo o lado e ter todas as outras coisas. Tenho de me moldar às pessoas e ser humilde para trabalhar em grupo. É uma grande aprendizagem. Mesmo tendo de pôr muitas coisas de lado, a vontade de continuar é mais forte.

O seu próprio sucesso leva-a a ficar longe da família. Até que ponto vale a pena?

 Vale completamente a pena, enquanto eu sentir esta vontade e este entusiasmo, porque a vida – que é uma dádiva enorme – é limitada no tempo e as pessoas têm sonhos a cumprir ou que, pelo menos, têm a obrigação de perseguir. Vale a pena continuar a cantar, mas tendo sempre presente aquilo que também é importante: ser mãe, ter filhos e estar com aqueles que escolheram ficar comigo. Tenho toda a compreensão do meu companheiro, caso contrário era impossível continuar. O meu marido partilha deste entusiasmo, e estou ciente de que não é à primeira que as pessoas compreendem todas as implicações envolvidas. Eu não tenho um tipo de vida padrão que seja facilmente comparável com outro, mas ainda bem... Para mim, estar vivo é um privilégio muito grande. Mais ainda é poder comunicar aos outros alguma coisa boa. Esses são momentos muito especiais. Felizmente, estou casada com uma pessoa que compreende isso, até porque é poeta e porque me conheceu através da música. Já sabia muito bem com quem estava a lidar. Evidentemente que tudo é equacionável, mas penso que a vida é uma constante pergunta, demanda."




sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro no Metrópolis



Bom dia!


Teresa está encantadora nesta entrevista ao programa Metrópolis, da TV Cultura, que foi ao ar em 29 de novembro de 2010. Acompanhem.




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro no Almanaque



Bom dia!

Esta entrevista da Teresa ao programa Almanaque, da Globo News, revela opiniões e pensamentos da cantora que vale a pena conhecer. 
O programa foi ao ar no dia 14 de janeiro de 2011.





quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"O Mistério" no Unimúsica



Bom dia!

Trago hoje os dois vídeos do programa Unimúsica, da UFRGS TV, onde a Teresa apresentou "O Mistério" para os fãs do Rio Grande do Sul, no Salão de Atos da referida Universidade, dia 09 de maio de 2013. O evento fez parte da série Lusamérica Canções.




Parte I




Parte II


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro no Entroncamento, Portugal



Bom dia!

O Município de Entroncamento receberá "O Mistério" às 21:30 do dia 30 de novembro, no Pavilhão Desportivo Municipal. Os bilhetes estarão à venda a partir do dia 12 de novembro e o valor será de 5 euros. 

Mais informações: cultura@cm-entroncamento.pt 
Tel: 249 720 400





segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro em Espinho, Portugal



Bom dia!

No dia 22 de novembro, às 21:30, Teresa e banda estarão no elegante Auditório de Espinho, a apresentar O Mistério para os fãs portugueses. O valor do ingresso é 10 euros, e para amigos AdE, 7 euros. Para tornar-se Amigo AdE, contacte o Auditório através do e-mail auditorio@musica-esp.pt ou dos números 22 734 11 45 / 22 734 04 69.


Horário de funcionamento da Bilheteira
Segunda a Sexta, das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 19h00.
Sábado, das 10h00 às 12h00.
Dias de espectáculo, uma hora antes do início do mesmo.

Morada:
Rua 34, nº 884
4500-318 Espinho
Portugal

Tel.: (+351) 22 734 11 45 / 22 734 04 69
Fax: (+351) 22 731 19 32



domingo, 20 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro em Turim, Itália



Bom dia!


Os fãs italianos da Teresa já podem comprar os seus ingressos para o concerto em Turim pelo site
http://www.ticketone.it/biglietti-teresa-salgueiro-torino.html?affiliate=PIT&doc=artistPages%2Ftickets&fun=artist&action=tickets&key=1062709%243352324.

Teresa levará "O Mistério" ao Teatro Colosseo no dia 12 de março de 2014, às 21:00. Os valores dos ingressos são:

€ 22,50Poltronissima
€ 22,50Poltrona A
€ 20,50Galleria A
€ 16,50Bimbo\Stud.Univ








sábado, 19 de outubro de 2013

Teresa Salgueiro em Almada, Portugal



Boa tarde!


A linda Teresa estará na igreja de Almada (Portugal) às 21:30 do dia 23 de novembro para lançar o concerto e CD "Cânticos da Tarde e da Manhã". Entrada franca.
Leiamos o que o meu querido amigo Pe. Rodrigo Mendes diz do concerto:

"Alguns perguntam: "O que é "Cânticos da tarde e da Manhã"?
E eu respondo: "São sete dos mais belos poemas da liturgia de vésperas (tarde) e laudes (Manhã) escritos entre o século II e o século XX por grandes poetas do mundo e de Portugal, musicados por alguns dos nossos melhores compositores de música litúrgica e que nos ajudarão a meditar duas páginas basilares da Bíblia: o poema inicial do Génesis e o prólogo do Evangelho segundo S. João."


O vídeo é do dia 23 de setembro, quando Teresa e banda estiveram na igreja de São Julião para apresentar o "Cânticos da Tarde e da Manhã", no 50° aniversário de ordenação do bispo de Setúbal, D. Juliano Reis. É uma prévia do quão comovente será este concerto.





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"O Mistério" em Cantanhede


Bom dia!


Hoje, às 21:30, a Teresa apresenta "O Mistério" no Centro Paroquial de São Pedro, em Cantanhede, Portugal.
Teresa querida, o fã-clube deseja-lhe muitas felicidades e um excelente concerto.






quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Entrevista ao Diário de Notícias

Bom dia!


Continuando a série "entrevistas", partilho hoje com vocês a entrevista que Teresa concedeu a Gabriela Oliveira do Diário de Notícias, disponível no site http://www.dn.pt/revistas/nm/interior.aspx?content_id=2452504




"Com os anos tornei-me mais assertiva"




(Fotografia: João Girão)




"Depois de vinte anos ao serviço dos Madredeus e de somar mais de mil concertos, Teresa Salgueiro regressa a solo com o primeiro álbum de originais. Na Arrábida, onde gravou O Mistério, fala do novo disco, das razões que a levaram a mudar de rumo, da infância e do percurso de sucesso pelos palcos do mundo. A primeira entrevista, na semana em que retoma a tournée em Portugal.

Pela primeira vez, em 25 anos de carreira, compõe as músicas e escreve as letras. Este álbum foi um desafio maior?
_Foi um grande desafio criar um projeto de raiz e encontrar as pessoas certas, que comungassem do mesmo sonho que eu, o que levou um certo tempo. Durante vinte anos cantei com os Madredeus, numa aventura extraordinária, que me levou a viajar pelo mundo inteiro e com quem me apresentei a muitas culturas e nos melhores palcos. Depois trabalhei em parceria com muitos músicos, interpretando uma série de repertórios e entrando em contacto com linguagens diferentes da música. Mas todos esses trabalhos foram experiências. Agora apresento-me verdadeiramente como solista.

É um reinício com um sabor especial?
_É um novo começo em que, pela primeira vez, escrevo música e comunico através das minhas próprias palavras. Já tinha esta ideia mas só agora foi possível concretizá-la. Nestes anos em todos os projetos em que participei, sempre fui apenas intérprete. Mesmo nos Madredeus tinha um repertório original composto para mim. Em 2007, quando o grupo fez uma pausa, interpretei grandes nomes da música popular brasileira com o projeto Você e Eu, em que percorri o Brasil. Também cantei em várias línguas com o álbum e atournéeLa Serena. Interpretei canções napolitanas, em Itália, e participei, como voz solista, no álbum Silence Night and Dreams, do compositor Zbigniew Preisner, com espetáculos na Europa. Para além do trabalhoMatriz, em que explorei a música tradicional portuguesa, de várias épocas. Nunca parei.

Tem uma nova imagem. Sentiu necessidade de marcar a diferença?
_De certa forma, sim. Foi pela vontade de mudar mas também por uma questão prática. Sou eu que me penteio antes dos espetáculos e estava cansada de apanhar sempre o cabelo. Uma franja resolve o problema de o cabelo ir para onde não deve quando estou no palco.

Neste trabalho recorre a instrumentos novos e a Teresa fica ao piano num dos temas.
_Há novas sonoridades, com a bateria e a percussão. O piano aprendi a tocar em pequenina. É um instrumento que gosto muito. Não o domino a fundo mas sinto-me à vontade e consigo compor através dele.

Foi ao piano que compôs os temas?
_Alguns sim, outros não. Há temas, como A Paixão, em que a melodia da guitarra nasceu no piano. Depende. Mas para compor costumávamos partir de uma ideia, que pode ser uma melodia de voz, uma progressão harmónica ou um ritmo. Só depois surgiram as letras. Cantei quase até ao fim sem palavras, até trabalharmos os arranjos e toda a envolvência musical, mas sabendo o que queria dizer ali. É curioso que muitos temas mantêm o nome de código que lhes dávamos na altura. Procurei sempre encontrar as palavras inspirada pelo que a música sugere, pelas ideias, imagens e tradições que evoca. Sejam elas mais antigas, como é o caso do tema O Cântico, que tem uma melodia arábica.

O Mistério foi gravado na Arrábida. Por alguma razão em especial?
_Andei algum tempo à procura de sítios para gravar. Preferia que o disco não fosse gravado num estúdio convencional porque, por melhores condições técnicas que pudéssemos ter, não deixaria de ser um ambiente frio. E surgiu a oportunidade de gravar no Convento da Arrábida, que é um sítio maravilhoso, de tranquilidade absoluta, com esta envolvência da serra e do mar. Ficámos durante o mês de Agosto, do ano passado, a gravar e a viver em comunidade, alheados do mundo.

Não regressavam a Lisboa ao fim do dia?
_Não. Dormíamos e preparávamos as refeições aqui, completamente mergulhados no disco. Foi uma experiência muito boa, achei que era importante, até para nos conhecermos melhor.

Trouxeram o estúdio às costas...
_Literalmente! Carregámos todo o material e tivemos de montar as salas de gravação e produção, adaptando as instalações que tínhamos ao nosso dispor. Gravámos na parte mais recente, na hospedaria do convento, que tem uma vista fabulosa sobre o oceano. As filmagens foram feitas sobretudo na parte mais antiga, que é do século xvi. Foi um privilégio termos acesso a um local destes. Convidei o António Pinheiro da Silva, com quem trabalhei nos primeiros anos dos Madredeus, para estar connosco e coproduzir o disco. O Jorge Barata gravou e o Rui Lobato, que trabalha comigo desde que saí do grupo, também fez a produção. Tive muita sorte em ter encontrado os músicos que tenho. Demorou, não nos conhecemos todos ao mesmo tempo, mas são pessoas que, além de muito talentosas, compreenderam a minha ideia de criar um universo musical nosso, uma linguagem própria, que concilia as diferentes sensibilidades, percursos e influências, porque cada um de nós vem de áreas muito diferentes.

Como foi a sua saída dos Madredeus?
_Foi uma consequência natural de um processo. Em 2007 os Madredeus fizeram uma pausa, como tinham feito outras no passado, para repensar o projeto e compor. Trabalhávamos a um ritmo de composição de três em três anos, em que produzíamos um repertório novo que depois apresentávamos ao vivo pelo mundo fora. Ao longo dos anos o nosso calendário sofreu muitas alterações - procurávamos ficar 15 dias cá, 15 dias fora - e o próprio grupo teve mudanças na sua formação, com a saída e a entrada de alguns músicos, mas eu fiquei sempre. Até que ao fim daquele ano, que foi muito intenso para mim, porque tive as gravações e as tournées dos projetos em que participei a solo, me foi proposto pelos Madredeus um contrato que eu achei excessivo. Estávamos a equacionar várias possibilidades, como trabalhar em períodos intensivos de três ou quatro meses e depois cada um faria o que entendesse. Mas quando falei com o Pedro Aires [Magalhães], o que ele me propôs foi sete anos de prioridade, sem nenhuma flexibilidade.

Achou muito tempo?
_Pareceu-me um prazo demasiado longo e com condições excessivas, sobretudo quando já estava há vinte anos no grupo. Tinha entrado com 17, já levava mais de metade da minha vida com os Madredeus. Quando o Pedro me falou que era tudo ou nada, eu optei por nada. Não ia conseguir estar de coração pleno mais sete anos. Sempre disse que sim. Sempre me entusiasmei, fui e aprendi o repertório, por várias razões, até pela grande cumplicidade que existia. Mas os músicos com quem eu tinha mais proximidade foram saindo e eu ali fiquei durante anos. Pelo extremo respeito que tinha pelo grupo, pelo trabalho do Pedro e pela sua capacidade em mobilizar as pessoas em torno de uma ideia e, acima de tudo, pelo meu amor à música e pela vontade de corresponder às expetativas do público que, repetidamente, nos recebia de uma forma entusiasta em tantos países. Até ao dia em que tive de dizer não. Tinha de ter tempo também para outros projetos. E saber o que queria fazer pela minha própria cabeça.

Conhece o trabalho dos Madredeus com a nova vocalista?
_Ainda não.

E o que acha de outra voz cantar os temas que a Teresa sempre cantou?
_Pelo que li, por acaso, esses temas já não os cantava há muito tempo, porque são da origem da formação do grupo e só tive a oportunidade de os voltar a cantar na altura em que fizemos uma antologia. São temas aos quais estava muito ligada... Deve ser um pouco estranho ouvi-los cantados por outra pessoa. Por outro lado, não foram compostos por mim, não são da minha autoria. Cada um agora segue o seu caminho. Não devo pronunciar-me sobre o trabalho que fazem.

Já se habituou à condição de viajante?
_Ao fim destes anos todos, adaptei-me. É a minha vida. Tive um ritmo muito intensivo e exigente com os Madredeus e, confesso, ao princípio foi complicado. Chegámos a fazer tournées com 120 concertos num só ano. Tínhamos um espetáculo à noite e às oito da manhã do dia seguinte já estávamos no autocarro datournée para dar mais um concerto noutra cidade. Muitas vezes regressávamos a Lisboa a pensar que íamos descansar por uns dias e tínhamos de voltar para o aeroporto. Dei quase mil concertos com os Madredeus pelo mundo inteiro. Claro que no início vivíamos tudo como uma festa, as viagens, os concertos, as reações do público... Depois tornei-me muito disciplinada e regrada para conseguir aguentar.

Nas duas últimas semanas, apresentou O Mistério em Espanha, Sérvia, Montenegro e México. O ritmo continua a ser extenuante?
_Continua, porque além das viagens há todo um trabalho de produção e promoção que está a ser feito. Mas curiosamente agora não sinto tanto o cansaço. Estou mais descontraída e tento aproveitar um bocadinho para conhecer os sítios por onde vou passando. Durante muitos anos não via nada. Os outros saíam e eu ficava a dormir. Com o novo grupo a dinâmica é diferente. Aliás, os elementos são todos mais novos do que eu. Mas sempre foi, e continua a ser, uma vida muito dedicada ao momento do concerto. Gosto de viajar. Gosto cada vez mais pela oportunidade de conviver e contactar com outras culturas através do fenómeno da música. Apesar de sentir saudades da minha filha, da família e das pessoas que ficam.

Chegou a levar a sua filha em viagem, quando ela era bebé?
_Durante o primeiro ano, sim. Depois desisti porque era muito complicado levá-la. Ela precisava da minha atenção, eu não a podia dar como ela necessitava e sentia-me em falta, dividida. Não conseguia concentrar-me porque estava sempre à espera de ter um bocadinho para ela. E, sobretudo, porque achei que estava a privá-la de tudo o resto, do contacto com os avós e de uma certa estabilidade. Estava a obrigá-la a ter um tipo de vida e a tornar-se num tipo de pessoa que eu não tinha o direito de o fazer. Agora, que é mais crescida, acompanha-me de vez em quando.

Há alguma coisa que nunca dispense de levar na bagagem?
_Nem por isso. Levo a roupa do espetáculo, roupa prática que se amachuque o mínimo possível e que eu até consiga lavar, se for preciso, alguma música e um livro. Mas às vezes levo o livro errado e não me apetece ler. Não costumo levar nada de especial... A não ser as minhas velinhas e o incenso, que cheiram bem e criam um bom ambiente. De resto, procuro repousar, estar bem-disposta, fazer a minha ginástica, esticar-me, pôr o corpo a funcionar, pelo menos no dia do concerto.

E tem por hábito trazer alguma coisa das viagens?
_Ultimamente tenho a tradição de comprar ímanes para a porta do frigorífico [risos]. E a porta já está bem preenchida! Trago os cartazes dos espetáculos, sempre que é possível, e um presente ou algo interessante para a minha filha.

Em criança já gostava de cantar?
_Desde que me lembro de mim, canto e gosto de cantar. Sempre fez parte de mim. Sou filha única, fui para a escola cedo, aos 3 anos, mas fui criada num ambiente familiar, porque as minhas primas moravam no mesmo prédio e passávamos muito tempo juntas. Brincávamos a organizar festivais da canção e a imitar programas de rádio. Elas tinham um gravador pequenino e gravávamos os noticiários, a publicidade, as canções... Era o nosso passatempo favorito. A minha mãe também cantava muito, tinha sempre o rádio ligado. Em casa havia dois discos fundamentais: As Cantigas do Maio, do Zeca Afonso, e O Abandono, da Amália Rodrigues. Ouvia muitas outras coisas mas foram esses dois discos que me inspiraram diretamente e era o repertório que eu cantava quando saía à noite com os amigos.

Foi a partir dessa altura que descobriu a sua voz?
_Até aí não tinha propriamente consciência da minha capacidade de cantar. Acima de tudo, o que recordo é o gosto, o prazer imenso que sentia quando cantava. Nasci em Lisboa mas cresci na Amadora e quando vim estudar para Lisboa fiquei fascinada a descobrir a cidade que ainda hoje amo. Adorava ir ao Martinho da Arcada, percorrer Alfama, o Bairro Alto e ao fim de semana quando saíamos todos juntos pediam-me para cantar. Estávamos à mesa no restaurante, eu cantava, aplaudiam, fazia-se silêncio e cantava outra vez. Esses momentos começaram a ser a coisa mais importante, apesar de serem completamente espontâneos. Podiam acontecer ou não. Nunca houve um compromisso. Foi assim que o Rodrigo Leão e o Gabriel Gomes me ouviram no Bairro Alto e me convidaram a fazer uma audição para um grupo que na altura ainda não tinha nome.

Nestes anos de tournées há algum episódio que a tenha tocado?
_É difícil destacar um, foram tantos, mas posso falar de um episódio recente. Levámos O Mistério a Ljubljana [capital da Eslovénia] e a reação da crítica e do público foi fantástica. A sala estava cheia, as pessoas foram muito calorosas, apesar de não conhecerem o disco, porque ainda não estava disponível em lado nenhum. Não sabiam ao que iam nem percebiam a língua. Até me perguntaram se era de propósito que o espetáculo se chamava O Mistério.

De onde vem o nome O Mistério?
_Um dos temas do disco chama-se assim e quando chegou o momento de dar um nome ao projeto achei que era a palavra que melhor representava o trabalho. Tudo o que escrevi faz parte de uma reflexão sobre a dimensão humana diante do mistério que é a vida. Todos nós sabemos que jamais poderemos saber tudo, que o mistério faz parte da realidade. Essa nossa consciência de que nunca se saberá tudo sobre nada, nem sobre nós mesmos, dá-nos a noção da nossa fragilidade mas também da nossa força e criatividade, da nossa capacidade de sonhar e de cumprir os nossos ideais. Porque é através das nossas ações que podemos melhorar um pouco o estranho mundo dos homens em que vivemos.

Tem o sonho de vir a trabalhar com algum músico?
_A Mariza Monte, que é uma pessoa que eu admiro muito, como cantora e produtora, e pela forma como foi construindo o seu caminho. Também sou fã dos U2, do Bono, mas nem ouso pensar nisso. Já tive a sorte de ser convidada por pessoas que admiro muito.

Como o José Carreras e o Caetano Veloso?
_Sim, e cujos duetos estão no disco Obrigado. Com o Caetano não gravámos o tema juntos. Eu gravei em Lisboa e ele na Baía. Mas quando fiz a tournée do Você e Eu no Brasil, fiz a primeira parte de um espetáculo dele em São Paulo. No final juntei-me a ele e ao seu violão e cantámos juntos dois ou três temas. Foi tão bonito! Gosto muito de o ouvir, é um cantor extraordinário! Esse sonho já tive a felicidade de o cumprir.

E a colaboração com o compositor Preisner?
_É um compositor fabuloso, adoro o trabalho dele! Fui convidada para gravar o disco Silence Night and Dreams e fizemos a estreia no magnífico teatro da Acrópole, em Atenas. Um concerto que apresentámos também em Londres, Paris e Plock e que gostaria de trazer a Portugal.

A sua voz é conhecida pela potência e doçura. A Teresa também tem essas duas facetas: a calma e o vulcão?
_[Risos] Nunca ninguém me tinha dito as coisas dessa maneira! Se calhar, com os anos, sou cada vez mais assim. Afetuosa e serena mas também assertiva e aguerrida quando é preciso. Acho que temos de fazer valer os nossos pontos de vista e lutar pelos nossos ideais, tentando sempre seguir pelo melhor caminho. Sabendo que da discussão nasce a luz. Eu acredito no diálogo."