quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Teresa Salgueiro vem a São Paulo lançar o arrebatador ‘Horizonte’




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O tempo calmo, o tecido criado pelas cordas de violões transpassadas pelo timbre do acordeom, a percussão, mais que a bateria, de sons naturalistas, e a voz profunda de Teresa Salgueiro firmam uma identidade que não se copia. Ela une o disco todo, tratado como se fosse dividido por capítulos de um filme a cada faixa. Horizonte vem primeiro, como um anúncio, um arrepio. “Ali se eleva o meu canto / É às distâncias que grito / Este delírio, este espanto / Que em tantos dias eu sinto.” Segue então com Desencontro, reforçado por um detalhe que não se percebe de longe. A marcação do ritmo no início tem seu acento deslocado por uma síncope que o atropela para que a música comece falando assim: “Desencontro, desconcerto / Desacerto, puro assombro / Desalento, de um reverso / Que eu acerto, no teu ombro”.


A Cidade, na sequência, traz o discurso de perplexidade que Teresa reforça em sua entrevista. Algo está errado quando o mundo evolui para tantos caminhos, faz descobertas tecnológicas tão transformadoras e segue com as mesmas angústias do período medieval. A fome, o preconceito, a raiva, as guerras. “Se houvesse uma distribuição mais justa, uma vez que a Terra foi feita para todos que estão aqui…”, ela diz.

Teresa deixou o Madredeus, grupo que a apresentou ao mundo, há 10 anos. Desde então, ela lançou três discos. O primeiro, de 2007, Você e Eu, trazia canções de Pixinguinha, Tom Jobim, Chico Buarque e Dorival Caymmi. Em 2011, ela fechou-se no Convento da Arrábida, em Portugal, para gravar o primeiro álbum solo e autoral, batizado O Mistério, que acabou sendo lançado em 12 países. Horizonte saiu em Portugal em 2016.

A travessia entre o Madredeus e a afirmação de uma carreira autoral se deu sem traumas maiores, como ela diz. “Essa afirmação é algo em construção, será sempre um desafio. Este disco que canto agora vai fazendo sua história, e eu já me sinto recompensada pela música.”

 Seu canto sai do sonho e ganha terras um pouco mais sombrias quando chega a introdução de Êxodo. Há sons de guerra, ataque de aviões, até que a música de tonalidades árabes (de escalas tão naturais aos ibéricos) se impõe. “O enredo adensou e a terra tremeu / Estandartes da raiva e da mentira que nasceu.”

 Como um filme bem roteirizado, não é por acaso que o álbum segue com A Luz. Passada a tempestade, o sol nasce nos arpejos de um violão e nos versos de Teresa. “Uma centelha ardente / brilha mais do que o sol / A maior alegria / Está contida nos gestos de amor.” As memórias e os horizontes de Teresa Salgueiro acreditam em uma transformação.



TERESA SALGUEIRO
Sesc Belenzinho. R. Padre Adelino, 1.000, tel. 2076-9700.
5ª (19) e 6ª (20), às 21 horas. R$ 18 a R$ 60
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Redirecionado de https://istoe.com.br/teresa-salgueiro-vem-a-sao-paulo-lancar-o-arrebatador-horizonte/





 Foto: Mimo Paraty

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