quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Entrevista ao Jornal das Autarquias



Olá!

Continuando a série de entrevistas que estou reeditando de outros sites, trago a que ela concedeu ao Jornal das Autarquias, disponível no endereço http://www.jornaldasautarquias.pt/entrevista-teresa-salgueiro.php


"J.A.- D. Teresa, antes de mais, tenho a agradecer a disponibilidade que teve em nos conceder esta entrevista.
T.S.- Ora essa, eu é que agradeço.

J.A.- A primeira pergunta que lhe quero fazer é sobre a sua infância. Sei que nasceu em Lisboa, no dia 08 de Janeiro de 1969. Depois veio morar para a Amadora onde viveu até aos 21 anos. Quer nos falar sobre essa época?
T.S.- A minha infância, na Amadora, foi uma infância normal. Frequentei um colégio, o Cisne, um colégio que ainda hoje existe, mas já morreu a Direcção. Um colégio onde gostei muito de andar. Fiz lá a primária, depois passei para o Bairro de Janeiro, não sei se hoje ainda existe. Foi uma fase em que não havia professores, foi uma época conturbada pelo momento que se estava a passar na altura. Mas, em termos de infância, posso dizer que foi uma infância feliz. Na altura, a Amadora era um local bastante mais sossegado do que é hoje. Eu era uma criança que passava muito tempo em casa, não era das que passavam o tempo na rua, porque na altura viviam no mesmo prédio as minhas primas e as brincadeiras passavam por brincarmos em casa ou então no colégio. Lembro-me de irmos todas brincar no jardim, que ainda hoje existe, penso que é o parque municipal, perto da estação.
Lembro-me de ir apanhar o comboio, para ir a Lisboa, com os meus pais. De resto, não tenho qualquer referência em particular a não ser as familiares. Os meus pais já viviam na Amadora há muitos anos, pois o meus avós já lá viviam. Os meus pais lá se casaram, de resto, insisto, não tenho quaisquer outras referências a não ser as de uma criança normal. O liceu fi-lo em Queluz e, a partir daí, comecei a desligar-me mais da Amadora, ficando apenas o percurso que eu fazia a pé, todos os dias, da casa para o liceu, ida e volta.

J.A.- Sei que foi o Rodrigo e o Gabriel que a descobriram, no Bairro Alto?
T.S.- Descobriram, é como quem diz, eu estava a cantar, eles ouviram e convidaram-me para fazer uma audição para um grupo, que estava a ser formado na altura, que se veio a chamar Madrededeus.

J.A.- Quer-nos falar da sua vivência no Madrededeus?
T.S.- É uma vivência de muitos anos, que não é fácil resumir. Foi uma vivência de 21 anos, vivência muito interessante, que me levou a conhecer países nos quatro cantos do mundo. Deu-me a oportunidade de me apresentar nos melhores teatros do mundo. Foram 21 anos de viagens e de dedicação completa a um grupo que fazia uma música original, cantada em português, e eu dediquei-me a essa aventura com toda a disponibilidade durante esses anos.

J.A.- A sua voz é uma voz impar no nosso país. Vai utilizá-la, a solo, durante muito mais anos?
T.S.- Olhe, até ter saúde para isso. Graças a Deus tenho tido saúde e como aquilo que eu gosto de fazer é cantar, pretendo cada vez mais criar disponibilidades e ter a capacidade de me organizar de modo a que me possa dedicar cada vez mais à música. Portanto, desde que eu tenha saúde e voz, irei cantar até poder.

J.A.- E sobre a sua discografia a solo, o que é que nos pode dizer, uma vez que ainda é muito recente, fins de 2007?
T.S.- O primeiro disco editado em meu nome, a que chamei “Obrigado”, é um disco em que fiz a compilação de algumas das parcerias, que ao longo dos anos de trabalho com os Madredeus, fui fazendo com outros artistas, que me convidavam a mim ou ao grupo para participar com eles, e, algumas dessas participações, estão incluídas nesse trabalho “Obrigado”.
Depois, o ano passado, um ano de paragem, de reflexão, para se concluir se o grupo havia de continuar ou não, editei dois discos diferentes, um deles com um grupo brasileiro, oriundos de São Paulo, com os quais estou neste preciso momento, em tournée. Já estivemos em Almada, Montemor-o-Novo, Figueira da Foz, Milão, na Sérvia e estivemos, dia 11 de Julho, no Luxemburgo. Neste período, porque, há um mês atrás, fiz com eles uma tournée no Brasil, onde nos apresentámos em diversas cidades brasileiras. No ano passado, estive com eles no México, em Israel e apresentámo-nos várias vezes em Portugal, Espanha e França. Paralelamente a este projecto que começou com a gravação de um disco, onde fizemos a recolha de vinte e duas canções da música popular brasileira, grandes êxitos nas épocas dos anos trinta a setenta, são canções de diversos autores e compositores que eu muito admiro, são canções das quais eu gosto muito. Tive a oportunidade de as cantar porque conheci o maestro Preisnner, em São Paulo, e, à admiração que eu sempre nutri por estes autores e compositores, se juntou a oportunidade que eu tive durante muitos anos de viajar no Brasil, a cantar e de me aproximar da realidade da música brasileira, que é muito música cantada em português, com um universo poético que eu considero muito inspirador e muito rico na música, no Brasil. Afinal, foi o cumprir de um sonho que aconteceu com muita naturalidade - o encontro - porque também chamei ao disco “Você e Eu”, que é o nome de uma das canções que apresentou o nosso projecto por todo o lado onde nos apresentamos.
Também, no ano passado, gravei um disco a que chamei “La Serena” que é o nome de uma das canções, uma canção do cancioneiro ibérico, do século XVI. Além dessa canção, que é cantada em latim, gravei dezasseis canções, um disco que reflecte um pouco as viagens que fui fazendo ao longo dos anos em que tive oportunidade de aprender a falar várias línguas e também reflecte o desejo que eu tinha em cantar outro géneros, cantar outras canções que eu há muitos anos gostava de experimentar cantar. Tive a oportunidade de conhecer o violinista Jorge Barrocoso Gonçalves, director do “Lusitânia Ensemble”, com os quais gravei o disco. O “Lusitânea Ensemble” é um quinteto de cordas, com piano e percussão, e gravámos canções de diversas nacionalidades, uma italiana, uma francesa, uma angolana, uma argentina, uma de Cabo Verde, uma mexicana, portuguesas e brasileiras. Comecei, com eles, o ano passado. É um projecto muito interessante onde temos viajado por diversos países da Europa, um projecto que tem sido muito bem recebido. É um disco que apenas foi editado em Portugal e Espanha, porque já não é um disco da EMI, ou seja, o disco “Você e Eu”, foi o meu último disco como artista da EMI-Internacional e,este disco “La Serena”, é um disco independente, em Portugal licenciado pela PAROC, em Espanha pela editora Resistência. Um projecto que tenho muito gosto nele.
Ainda, no ano passado, saiu um outro disco de um compositor polaco, “Zbigniew Preisner, chamado “Silence Night and Dreams” e fui convidada para ser a voz solista desse trabalho, do qual também tenho canções. Tenho feito concertos em vários países da Europa e nas mais conceituadas salas de espectáculos, mas este é um projecto diferente, pois trata-se de um projecto de música sinfónica, com couro e instrumentos líricos. As canções que eu canto são todas em latim e as palavras são retiradas do livro de Job, do antigo testamento.
Agora, recentemente, e que já teve a sua estreia, há um disco de canções napolitanas, tendo ainda apenas um único concerto, no teatro de S. Carlos, em Nápoles, onde eu me apresentei a convite de um quarteto de cordas italiano, que são napolitanos, e que fizeram uma recolha de canções desde o século XV/XVI até aos nossos dias, de canções napolitanas. Foi uma apresentação inesquecível, dizem que é o teatro mais antigo da Europa, um teatro belíssimo e foi, para mim, uma noite inesquecível.
Entretanto, estou a preparar outras coisas mas ainda é cedo para falar pois estão ainda em embrião.

J.A. -Esperamos ter notícias suas em breve.
T.S.- E eu as darei com toda a certeza.

J.A.- Não sei se está a par do que se está a passar na Amadora, uma vez que já saiu de lá há algum tempo?
T.S.- Os meus pais ainda lá vivem, mas a coisa que eu me lembro mais e sei que é bastante apreciado foi a melhoramento de um parque junto à estação, já tem muitos anos mas, agora, com este melhoramento, é de muito uso para a população. No entanto, não estou muito a par do que se passa na cidade, uma vez que se tornou cidade, cresceu imenso, tem uma grande densidade populacional, com uma grande componente africana, que eu acho muito interessante. De resto, não tenho assim grandes conhecimentos das coisas, mas lembro-me do cinema, do velho cinema “Lido”, que era muito bonito, onde eu ia. Não sei se estão os dois a funcionar, ou não, seria bom fazer dali um espaço de cultura mas, neste país, cultura é, por muitas vezes, esquecida."






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