quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Matéria extraída do Correio da Bahia


Olá!

Encontrei na internet esta matéria do Correio da Bahia, em que a jornalista Doris Miranda entrevista a Teresa. Segue a entrevista na íntegra:





"A voz, ao telefone, é rápida, sagaz e absolutamente simpática, cheia de disposição para uma conversa longa. “Gosto de falar muito, peço desculpas”, diz, depois de uma divagação sobre a fé na humanidade. Por um instante, não dá para acreditar que a dona da voz é uma diva da música mundial. 

Sim, porque, embora tenha assumido visual moderníssimo, sexy, e esteja à frente de um novo trabalho, a cantora portuguesa Teresa Salgueiro, 44 anos, sempre estará na memória do público como a elegante vocalista do emblemático grupo Madredeus, onde atuou por mais de duas décadas.
Foram-se os coques, os xales diáfanos, os vestidos tradicionais, com os quais correu o mundo ao lado do grupo que atualizou o fado. O momento é outro. Longe do Madredeus desde 2007, Teresa tratou de se reinventar. Antes, uma voz - e que soprano, diga-se de passagem. Agora, a musa escreve o que canta, como se ouve em O Mistério, primeiro álbum autoral da carreira. O mesmo repertório que ela apresenta no show desta sexta-feira, no Teatro Castro Alves, no Campo Grande, mais um da Série TCA 2013.
“Fiz parte de muitas experiências diferentes, muitas estreias, de fato. Mas, esta é muito especial, pois marca minha estreia como compositora, coisa que só passou a acontecer há dois anos. Havia essa necessidade de continuar, de algo novo para dizer num repertório original”, avalia a artista, apontada pela própria Amália Rodrigues (1920-1999) como sua herdeira musical.

Sonho



Teresa, que antes cantava músicas compostas especialmente para ela, cria em 16 temas cantados um ambiente místico, acentuado pelos movimentos acústicos do acordeom e do contrabaixo, para expor as fragilidades e as complexidades da condição humana, embora tente nunca perder o otimismo. 
“Tenho fé na humanidade porque penso que sem fé o sonho não é possível, e só através do sonho o homem sobrevive. Nós ainda cometemos os mesmos erros, mas sem dúvida temos mais sabedoria. A maternidade me deu essa noção, da maravilha que é a vida”, diz a mãe de Inês, hoje com 15 anos.
Ela conta que sempre escreveu muito nas viagens com o Madredeus mas nunca tinha pensado em compor músicas: “Meus escritos eram mais como uma companhia, eram pensamentos, poesias, observações, coisas muito minhas... Não foi difícil fazer, de fato, foi um processo muito rico de encontro comigo mesma. Daí, as palavras vieram de imediato”.
Talvez por testemunhar por duas décadas o processo de autoria dos colegas da antiga banda, Teresa tenha absorvido o método. Primeiro a música, a harmonia, desenvolvida em consonância com o quarteto de músicos que a acompanha: Carisa Marcelino (acordeon), Óscar Torres (contrabaixo), Graciano Caldeira (guitarra) e Rui Lobato (bateria, percussão, guitarra).
Só depois, as letras, vindas em função daquela métrica específica. “Muitos temas nascem à volta de uma ideia simples. Escrevo uma reflexão sobre a natureza humana e a presença desse mistério, pois não temos nunca acesso à grande parte das razões que nos fazem estar aqui”, reflete Teresa. A Batalha, tema que abre o disco e o show, exemplifica a intenção: “A luz da manhã/Revela, anuncia/Ó terra, a esperança não é vã/Renasce a cada dia.”
O mar - Admiradora da música brasileira desde muito “jovenzinha”, Teresa gravou em 2007 o álbum Você e Eu, composto somente por clássicos da música brasileira, como Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), O Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi) e Valsinha (Chico Buarque/Vinicius de Moraes).

Se vai cantar algum destes no Teatro Castro Alves não revela. Só ri e se diz apaixonada pela MPB e pelo português falado no Brasil. “É muito comovente cruzar o Atlântico por horas e ouvir o português. Há expressões ditas no Brasil que não se usam mais em Portugal. É muito bonito ouvir novamente”, brinca.
O oceano Atlântico, inclusive, foi a maior testemunha desta nova fase da cantora lisboeta. Afinal, o Convento da Nossa Senhora da Arrábida, secular mosteiro católico localizado à beira-mar, na região de Setúbal, em Portugal, foi o local onde Teresa e seu quarteto gravaram ao vivo O Mistério e desde então o grupo vem reproduzindo o álbum do mesmo jeito. 
“É música feita para ser tocada ao vivo por sua natureza acústica, por sua raiz que evoca tradições de Portugal. É música ligada ao passado, mas com olhar para o futuro. Acho que, desde o Madredeus, estou atualizando a música portuguesa”, afirma, revelando que não tem previsão de lançar o novo álbum no Brasil. “Ficaria muito feliz”, completa.
Satisfação também sente  ao saber que faz sol nestes dias em Salvador: “Ah, que coisa linda! Adoro o colorido daí, já estive muitas vezes na Bahia. Mas, há dois anos não piso os pés nesta terra. Lembro da comida fantástica, da cultura africana, do Pelourinho, das igrejas, das baianas na rua”."







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