Olá!
Temos na internet poucas entrevistas da Teresa, e eu resolvi republicar algumas de diferentes sites, de diferentes épocas. Em breve eu mesma vou pedir que ela me conceda uma entrevista, rsrs, mas não é para agora.
Para começar, uma entrevista que ela concedeu a Andrea Pedrinelli, em Avvenire, a 30 de maio de 2012, com tradução de João Paulo Costa, Pablo Lima e Tiago Freitas, disponível no site http://www.patiodosgentios.com/entrevistas/o-misterio-entrevista-a-teresa-salgueiro/ . Boa leitura!
"Inspirada pelo silêncio a cantar a minha fé"
"A
consciência do mistério, do sobrenatural, é o ponto de partida para ter a
coragem de viver". É desta forma que Teresa Salgueiro, outrora voz dos
Madredeus durante um quarto de século, explica o sentido e o conteúdo do novo
rumo que tomou, como solista e autora, com o álbum O mistério; precisamente, o
mistério. Um disco de rara beleza que alterna procura, herança clássica e
expressão popular para cantar o homem, os valores, a esperança e, sobretudo, a
fé, sem retórica mas mantendo os olhos abertos. Ao ponto de misturar a
exaltação dos ideais com a denúncia da guerra e da cultura da morte.
O que a lançou na aventura de ser solista?
Na verdade, o modo de sentir a música não mudou. Mesmo agora estou
dentro de um grupo (Carisa Marcelino acordeão, Óscar Torres contrabaixo, André
Filipe Santos guitarra e Rui Lobato percussão, nde)
porque é no confrontar-se que se cresce. Continuo a procurar um sentido para
mim mesma trabalhando com os outros e assim aumentar a possibilidade de
exprimir-me.
Mas desta vez exprime-se com textos escritos por
si.
Sim, é um desafio e uma oportunidade. Todos os textos nasceram
sobre melodias vocais das canções já escritas: a dificuldade estava em
conseguir entender-me a mim mesma ao ponto de transformar em palavras com
sentido os pensamentos e os valores que tenho dentro de mim. E consegui-lo é
uma grande alegria.
Para o conseguir gravou o cd num convento?
Também: na hospedaria do convento da Arrábida, do século XVI,
estivemos isolados do rumor do mundo. E poder pensar, dedicarmo-nos uns aos
outros e todos juntos à música, foi decisivo.
O "mistério" é dominado pela espiritualidade.
Considera que é, hoje, uma exigência viva?
Seguramente que o é para mim. Só compreendendo que existe sempre o
mistério na nossa vida, e que não podemos saber e compreender tudo, é que
podemos mudar as coisas. Porque é esta consciência que nos ajuda a ser homens:
frágeis, sim, mas também fortes. Verdadeiramente capazes, cada um a seu modo, e
para mim é a arte, de aprender a viver.
Não escreveu versos abstractos, mas partiu
sempre das dores do mundo contemporâneo…
Absolutamente. Porque só olhando o mundo com realismo é que nasce
uma verdadeira esperança de o modificar. E para mim a esperança é o centro.
Nunca fugir.
Por isso canta até mesmo a morte, e sem receios
ou anseios, sublinhando "Só o amor ficará"?
Sim, porque é uma condição do nosso viver, e, aceitando-a, damos
mais valor à própria vida. A música A partida nasce
reflectindo sobre o quanto se incide no ter mais do que no ser: creio que
devemos recuperar o essencial. No final, apenas o amor dado e recebido será a
medida das nossas vidas.
Não tem pudor em declarar a fé, em revelar, nos
versos de uma canção, que ela é a sua "arma"?
Pelo contrário. É importante falar dela. É precisamente a fé que
nos faz entender até as dores, dando-nos força para acreditar num futuro que
não seja apenas o medo de novos erros, novas guerras.
Guerras a que dedica "A batalha", denunciando a
cultura da morte…
Era necessário. Encontramos o saudável valor do livre arbítrio:
digamos não à morte, ao homicídio.
Em que medida ser mãe influencia o caminho que
decidiu percorrer fora dos Madredeus, indo à realidade com os seus valores?
Muito, e transformou-me logo desde o início. Mas ainda agora, que
a minha filha tem 13 anos, continua a ensinar-me modos de olhar o mundo
diferentes do meu, tornando-me sempre mais atenta e consciente da
responsabilidade daquilo que faço."
"A
consciência do mistério, do sobrenatural, é o ponto de partida para ter a
coragem de viver". É desta forma que Teresa Salgueiro, outrora voz dos
Madredeus durante um quarto de século, explica o sentido e o conteúdo do novo
rumo que tomou, como solista e autora, com o álbum O mistério; precisamente, o
mistério. Um disco de rara beleza que alterna procura, herança clássica e
expressão popular para cantar o homem, os valores, a esperança e, sobretudo, a
fé, sem retórica mas mantendo os olhos abertos. Ao ponto de misturar a
exaltação dos ideais com a denúncia da guerra e da cultura da morte.
O que a lançou na aventura de ser solista?
Na verdade, o modo de sentir a música não mudou. Mesmo agora estou
dentro de um grupo (Carisa Marcelino acordeão, Óscar Torres contrabaixo, André
Filipe Santos guitarra e Rui Lobato percussão, nde)
porque é no confrontar-se que se cresce. Continuo a procurar um sentido para
mim mesma trabalhando com os outros e assim aumentar a possibilidade de
exprimir-me.
Mas desta vez exprime-se com textos escritos por
si.
Sim, é um desafio e uma oportunidade. Todos os textos nasceram
sobre melodias vocais das canções já escritas: a dificuldade estava em
conseguir entender-me a mim mesma ao ponto de transformar em palavras com
sentido os pensamentos e os valores que tenho dentro de mim. E consegui-lo é
uma grande alegria.
Para o conseguir gravou o cd num convento?
Também: na hospedaria do convento da Arrábida, do século XVI,
estivemos isolados do rumor do mundo. E poder pensar, dedicarmo-nos uns aos
outros e todos juntos à música, foi decisivo.
O "mistério" é dominado pela espiritualidade.
Considera que é, hoje, uma exigência viva?
Seguramente que o é para mim. Só compreendendo que existe sempre o
mistério na nossa vida, e que não podemos saber e compreender tudo, é que
podemos mudar as coisas. Porque é esta consciência que nos ajuda a ser homens:
frágeis, sim, mas também fortes. Verdadeiramente capazes, cada um a seu modo, e
para mim é a arte, de aprender a viver.
Não escreveu versos abstractos, mas partiu
sempre das dores do mundo contemporâneo…
Absolutamente. Porque só olhando o mundo com realismo é que nasce
uma verdadeira esperança de o modificar. E para mim a esperança é o centro.
Nunca fugir.
Por isso canta até mesmo a morte, e sem receios
ou anseios, sublinhando "Só o amor ficará"?
Sim, porque é uma condição do nosso viver, e, aceitando-a, damos
mais valor à própria vida. A música A partida nasce
reflectindo sobre o quanto se incide no ter mais do que no ser: creio que
devemos recuperar o essencial. No final, apenas o amor dado e recebido será a
medida das nossas vidas.
Não tem pudor em declarar a fé, em revelar, nos
versos de uma canção, que ela é a sua "arma"?
Pelo contrário. É importante falar dela. É precisamente a fé que
nos faz entender até as dores, dando-nos força para acreditar num futuro que
não seja apenas o medo de novos erros, novas guerras.
Guerras a que dedica "A batalha", denunciando a
cultura da morte…
Era necessário. Encontramos o saudável valor do livre arbítrio:
digamos não à morte, ao homicídio.
Em que medida ser mãe influencia o caminho que
decidiu percorrer fora dos Madredeus, indo à realidade com os seus valores?
Muito, e transformou-me logo desde o início. Mas ainda agora, que
a minha filha tem 13 anos, continua a ensinar-me modos de olhar o mundo
diferentes do meu, tornando-me sempre mais atenta e consciente da
responsabilidade daquilo que faço."
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